domingo, 27 de abril de 2014

Ser madrasta

Ser madrasta não é fácil, não. É tarefa das mais difíceis sê-la. Você já foi madrasta? Não? Então não julgue, nem prejulgue, principalmente se você é mãe, porque só quem é ou foi madrasta, pode falar de outra madrasta.
Mães falam de mães, mas jamais poderão falar das madrastas, nem tão pouco do sentimento que existe no coração de uma madrasta.
Porque se engana profundamente quem pensa que uma madrasta não pode ou não consegue amar seus enteados. 
A morte do menino Bernardo, assassinado pela madrasta e ignorado em vida pelo pai, desperta nas pessoas sentimentos terríveis, aumentando ainda mais a rejeição que muitas têm, por essa figura.
Mas não podemos tomar como regra a crueldade e a doença desta mulher, que foi capaz de cometer um ato tão cruel e bárbaro, contra um pobre menino carente de amor e afeto de um pai ausente e de uma mãe já falecida.
O que ela fez destoa por completo das atitudes de um ser humano normal. Quem dirá de uma madrasta normal.
Entendo que quando uma mulher se envolve com um homem que tem filhos, ela pode optar entre dois caminhos: ou escolhe o caminho da omissão, retirando-se da vida dos seus enteados, vivendo um relacionamento em família pela metade, na medida em que não assume um papel de extrema importância e grande responsabilidade, ou pode optar pelo caminho mais fácil, ou seja, o do amor, recebendo, predispondo-se, agregando, acolhendo, reunindo, tentando compreender, contribuído e aprendendo a cada dia mais com seus enteados, aproveitando essa oportunidade única de transformar-se numa mulher de verdade.
É como fazer artesanato: requer paciência, maturidade, cuidado, calma, resignação...é missão que aprimora o nosso espírito, nosso caráter, edifica a nossa personalidade, resultando em algo muito gostoso.
É certo que para algumas madrastas, omitir-se da vida dos enteados é uma estratégia de auto-preservação, pois entendem que não apegar-se aos mesmos é um meio de se evitar um grande sofrimento na hipótese de uma eventual separação do casal. Isso é fato.
Mas por outro lado, deixar de entregar-se deve ser uma atitude que causa um sentimento de incompletude tremendo, misturado a uma pontinha de frustração lá no fundo da alma, por mais que finja não se importar. 
Ainda que no relacionamento aconteçam reveses, eu ainda acho que é preferível se doar á tarefa que se omitir. De alguma forma sempre, sempre vai compensar viver essa experiência.
Cultivar o amor dos enteados é tarefa diária, difícil, é ato de desprendimento, de amor, é não ter a pretensão de substituir o lugar da mãe e muito menos desejar que isto aconteça, mas no momento necessário, saber agir como uma. É saber respeitar os pais dos seus enteados e buscar relacionar-se com os mesmos da melhor maneira, caso seja possível e a todo tempo demonstrar ser digna de sua confiança, colaborando, ainda que de forma coadjuvante para o crescimento das crianças.
Eu já fui madrasta, amei e me dediquei o quanto pude e quando acabou fiquei devastada, mas as lembranças daquele tempo são só minhas e ninguém pode tirar. As lembranças só fazem bem.
Por isso aconselho: ame sempre, dedique-se sempre e faca o melhor que puder. A vida sempre vai te dar em dobro todo o amor que você deu de graça. 
Aproveite e valorize cada minuto vivido com seus enteados!