Antes de qualquer coisa, antes de
começar a escrever este texto, quero lembrar aos leitores de uma coisa: estamos
em pleno século XXI, ok? O que vocês vão ler agora aqui, não é uma reprodução
de um texto do século XIX, mas tão e simplesmente o relato de uma situação
atual, vivenciada por milhares de mulheres, todos os santos dias, em qualquer
lugar do mundo. Então vamos lá: vamos
falar sobre a decisão de romper o casamento.
Alguns devem estar se
perguntando: “mas por que tanto exagero para tratar de um assunto tão banal
assim?”, “por que tanto suspense para falar de algo tão comum em nossa
sociedade?”. Pois é, eu também estaria surpresa com o tema, se não constatasse
de perto, a forma absurda como é tratada a mulher que decide colocar um ponto
final num casamento já fracassado (ou aparentemente feliz).
Confesso que já me sinto
extremamente cansada dessas discrepâncias de tratamento existentes na sociedade
em relação aos homens e às mulheres e quando o assunto converge para a decisão de
terminar um casamento, principalmente quando existem filhos e quando esta
escolha parte da mulher, a coisa fica feia, aliás, fica feíssima!!!!
E o que era ruim piora quando a
questão invade a esfera patrimonial pois além de ganhar a pecha de “louca”, “insana”,
“traidora”, “imatura” por decidir terminar um casamento, quando a mulher busca
a divisão dos bens havidos durante a união, ainda ganha outros adjetivos como “interesseira”,
“oportunista”, “preguiçosa” e outras coisas do gênero.
Imagine então quando a questão é
analisada levando em consideração a situação dos filhos! A mulher encara a
faceta de “desnaturada”, “irresponsável”, “egoísta”, “individualista” ou “péssima
mãe”!
E tudo isso somente porque
resolve acabar com uma situação insustentável que já não lhe trazia
felicidade...inclusive para o companheiro!
Depois da decisão tomada e
achando que o pior “capítulo” dessa “novela” já terminou, a mulher não faz a
mínima ideia das inúmeras outras provações que ainda terá de aguentar por conta
da livre decisão em romper um casamento: olhares de piedade, olhares de reprovação,
mudanças repentinas no comportamento daquelas que outrora eram consideradas “amigas”,
cantadas vindas dos amigos do ex-marido, a exclusão de programas destinados somente
aos “casados”, aquele medo inexplicável que algumas esposas e namoradas têm das mulheres divorciadas por acharem que estas últimas são verdadeiras “devoradoras” de homens
(solteiros e casados), fofocas, preconceito, ou seja, tantas coisas tolas e
pequenas que só quem passou por essas situações sabe exatamente aferir.
E no dia em que esta mulher estiver disposta a ter um casinho, um namorado ou outro marido até, pode ter certeza que vão mais uma vez apontar o dedo e deduzir: "tá vendo...? Já tinha outro!"...!
E no dia em que esta mulher estiver disposta a ter um casinho, um namorado ou outro marido até, pode ter certeza que vão mais uma vez apontar o dedo e deduzir: "tá vendo...? Já tinha outro!"...!
No final das contas, é natural a
sensação de indignação porque simplesmente constatamos uma dura realidade: para a
sociedade a mulher ainda deve aguentar tudo, calada, pouco importando se ela é
vítima de violência doméstica, se passa pelas piores humilhações dentro de
casa, se ouve xingamentos, se passa por privações financeiras ou sentimentais
ou se tem de suportar as traições e as farras do marido.
Para esta mesma sociedade, ela deve
se conformar em ser traída, enganada, deve contentar-se em manter sua família à
prova das mazelas que povoam seu casamento, ainda que isso lhe custe a sua
própria felicidade. Deve manter um casamento infeliz porque infelizmente perdeu
a sua identidade bem como a sua individualidade no momento em que assinou um
papel na frente do Juiz. Deve por fim esperar se abandonada depois de 10, 20,
30 anos de dedicação a um único homem, quando não tiver mais sonhos nem
aspirações a serem compartilhadas com um novo parceiro por conta das desilusões, para servir de mártir e exemplo para esta mesma sociedade, que finalmente lhe
aplaudirá de pé ao lhe ver sozinha e infeliz, sem coragem e com medo de
reconstruir a vida.
Um comentário:
Infelizmente você foi 100% fiel a nossa realidade, mas resta à essa guerreira resgatar a sua dignidade e buscar outras tribos que não pensem assim. E essas tribos existem! O triste é ver mulheres que podem viver isso amanhã fazerem o mesmo mal a outras mulheres.
Postar um comentário