terça-feira, 12 de agosto de 2014

Quando uma mulher decide romper...

Antes de qualquer coisa, antes de começar a escrever este texto, quero lembrar aos leitores de uma coisa: estamos em pleno século XXI, ok? O que vocês vão ler agora aqui, não é uma reprodução de um texto do século XIX, mas tão e simplesmente o relato de uma situação atual, vivenciada por milhares de mulheres, todos os santos dias, em qualquer lugar do mundo. Então vamos lá:  vamos falar sobre a decisão de romper o casamento.

Alguns devem estar se perguntando: “mas por que tanto exagero para tratar de um assunto tão banal assim?”, “por que tanto suspense para falar de algo tão comum em nossa sociedade?”. Pois é, eu também estaria surpresa com o tema, se não constatasse de perto, a forma absurda como é tratada a mulher que decide colocar um ponto final num casamento já fracassado (ou aparentemente feliz).

Confesso que já me sinto extremamente cansada dessas discrepâncias de tratamento existentes na sociedade em relação aos homens e às mulheres e quando o assunto converge para a decisão de terminar um casamento, principalmente quando existem filhos e quando esta escolha parte da mulher, a coisa fica feia, aliás, fica feíssima!!!!

E o que era ruim piora quando a questão invade a esfera patrimonial pois além de ganhar a pecha de “louca”, “insana”, “traidora”, “imatura” por decidir terminar um casamento, quando a mulher busca a divisão dos bens havidos durante a união, ainda ganha outros adjetivos como “interesseira”, “oportunista”, “preguiçosa” e outras coisas do gênero.

Imagine então quando a questão é analisada levando em consideração a situação dos filhos! A mulher encara a faceta de “desnaturada”, “irresponsável”, “egoísta”, “individualista” ou “péssima mãe”!

E tudo isso somente porque resolve acabar com uma situação insustentável que já não lhe trazia felicidade...inclusive para o companheiro!

Depois da decisão tomada e achando que o pior “capítulo” dessa “novela” já terminou, a mulher não faz a mínima ideia das inúmeras outras provações que ainda terá de aguentar por conta da livre decisão em romper um casamento: olhares de piedade, olhares de reprovação, mudanças repentinas no comportamento daquelas que outrora eram consideradas “amigas”, cantadas vindas dos amigos do ex-marido, a exclusão de programas destinados somente aos “casados”, aquele medo inexplicável que algumas esposas e namoradas têm das mulheres divorciadas por acharem que estas últimas são verdadeiras “devoradoras” de homens (solteiros e casados), fofocas, preconceito, ou seja, tantas coisas tolas e pequenas que só quem passou por essas situações sabe exatamente  aferir.

E no dia em que esta mulher estiver disposta a ter um casinho, um namorado ou outro marido até, pode ter certeza que vão mais uma vez apontar o dedo e deduzir: "tá vendo...? Já tinha outro!"...!

No final das contas, é natural a sensação de indignação porque simplesmente constatamos uma dura realidade: para a sociedade a mulher ainda deve aguentar tudo, calada, pouco importando se ela é vítima de violência doméstica, se passa pelas piores humilhações dentro de casa, se ouve xingamentos, se passa por privações financeiras ou sentimentais ou se tem de suportar as traições e as farras do marido.

Para esta mesma sociedade, ela deve se conformar em ser traída, enganada, deve contentar-se em manter sua família à prova das mazelas que povoam seu casamento, ainda que isso lhe custe a sua própria felicidade. Deve manter um casamento infeliz porque infelizmente perdeu a sua identidade bem como a sua individualidade no momento em que assinou um papel na frente do Juiz. Deve por fim esperar se abandonada depois de 10, 20, 30 anos de dedicação a um único homem, quando não tiver mais sonhos nem aspirações a serem compartilhadas com um novo parceiro por conta das desilusões, para servir de mártir e exemplo para esta mesma sociedade, que finalmente lhe aplaudirá de pé ao lhe ver sozinha e infeliz, sem coragem e com medo de reconstruir a vida.





Um comentário:

Anônimo disse...

Infelizmente você foi 100% fiel a nossa realidade, mas resta à essa guerreira resgatar a sua dignidade e buscar outras tribos que não pensem assim. E essas tribos existem! O triste é ver mulheres que podem viver isso amanhã fazerem o mesmo mal a outras mulheres.