domingo, 28 de abril de 2013

Uma promessa cumprida


 *Essa é uma história verídica.

Ela era uma trabalhadora.
Dava duro de sol a sol atrás de um  caixa de ônibus e cumpria jornada dura, às vezes dupla.
Era cobradora de uma empresa de ônibus e durante o dia aguentava tudo calada: falta de troco, grosserias dos passageiros, cantadas, bêbados, reclamações e até assaltos!
Mas resistia bravamente, afinal, tinha marido e dois filhos. E as coisas não estavam fáceis, pois ele estava desempregado e fazia alguns “bicos” para ajudar em casa.
E os meninos, que eram bons filhos, precisavam estudar e não tinham pedido pra nascer, e ela tinha compromisso.
E assim levava o dia aguentando toda sorte de dificuldades. E quando chegava em casa, depois de um dia de trabalho, cumpria com zelo e paciência as obrigações de mãe e mulher.
Fazia janta, olhava as lições e apesar do cansaço absurdo, e quando o marido estava por perto, até namorava um pouco para esquecer a dureza da vida, afinal, ainda corria sangue em suas veias...
Até que um dia, em meio a uma greve do seu setor, fora liberada em razão do grande alvoroço causado na cidade. Os manifestantes ficaram violentos e a reação da polícia, obviamente não foi das melhores.
E como não tinha outro jeito, voltou para casa para não arriscar-se desnecessariamente na rua. Mas ainda assim muito preocupada com os meninos, que há essa hora deviam estar na escola.
Já que ia almoçar em casa naquele dia, resolveu passar no mercado e comprar alguma coisa diferente para o almoço, para dar uma alegria à família, num dia como qualquer outro...
E quando abriu a porta a vida mudou para sempre, repentinamente.
Foi quando ela viu, que o seu companheiro, sustentado por ela, na sua própria cama estava com outra mulher.
E naquele segundo ela relembrou das dificuldades atravessadas, das privações, das brigas, das madrugadas perdidas, do jantar que tinha que fazer, das crianças na escola, do crediário atrasado, da luta diária, do sufoco para criar os filhos e cuidar do marido, das  suas cobranças, das críticas feitas por ele sobre sua comida, seu corpo, sua aparência  e sua performance na cama, lembrou também de como andava cansada de tanta luta...
E sem pensar duas vezes, desferiu-lhe dois golpes de faca certeiros no peito e não chorou, mesmo vendo-o cair na sua frente. Morto.
E para a mulher, que fugira seminua e em estado de choque só deu tempo de jurar: “Vou me entregar, mas na primeira oportunidade que sair da prisão, volto para te matar.”.

E assim fez.

Foi num indulto natalino que Maria do Carmo, depois de cumpridos 6 anos em regime fechado, ceou com seus filhos e mãe, e logo que todos dormiram, saiu de casa munida de lembranças, muitas mágoas,  raiva, uma promessa por cumprir e uma faca na bolsa.
Bem calmamente procurou por sua vítima e encontrando-a e cumpriu sua promessa na noite de Natal.
E tranquilamente retornou no dia seguinte para a prisão, deixando definitivamente o passado para trás.


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