O
texto é longo, mas vale a pena ler!
Muito
se tem lido sobre o tema e quase todos nós já ouvimos alguém falar, relatando
histórias de sofrimento e humilhação resultantes de um fenômeno que a cada dia
se torna mais e mais comum, principalmente no ambiente de trabalho: o assédio
moral.
Nos
tempos modernos, a prática caracteriza-se por um conjunto de atos repetitivos e
velados, praticados geralmente no ambiente de trabalho, resultante de relações
de hierarquia (ou não necessariamente), observados quase unicamente somente pelo agressor e sua vítima,
que consistem na diminuição de sua autoestima através de atos aparentemente
insignificantes e contínuos e humilhações constantes, públicas ou veladas, que visam
desestruturar, degradar, perseguir, ferir e maltratar psicologicamente a
vítima, minando sua autoestima e sua segurança, levando-a a consequências gravíssimas
que vão desde transtornos psicológicos, traumas, crises de choro, insônia, pesadelos,
queda de cabelo, falta de libido, falta de apetite, stress agudo, sensação de desespero
e impotência, transtornos de afetividade, emagrecimento repentino, compulsões, desemprego, insegurança, desestruturação familiar,
podendo atingir finalmente o mais crucial e dramático efeito, o suicídio.
O
que aqui se relata não se trata de exagero. Diversos estudos já comprovaram de
maneira acertada o que infelizmente se descreve acima: o assédio moral
atualmente é um dos maiores responsáveis pela incapacidade laboral de milhares
de trabalhadores espalhados pelo mundo, que por terem sido escolhidos como “alvos”
de colegas, superiores hierárquicos ou até clientes, necessitaram afastar-se de
suas atividades de trabalho, por não terem mais condições físicas e
psicológicas de darem continuidade à prestação de serviços, requerendo assim o
devido tratamento para tal mazela, que quando praticada, deixa marcas profundas
e até permanentes em suas vítimas.
Você
nesse momento deve estar se perguntando, “mas o que isso tem a ver com o blog?”,
“o que tem esse assunto tem a ver com relacionamento?”. O assunto tem tudo a
ver com a nossa proposta, a partir do momento que se observa mais e mais a cada
dia a prática do assédio moral dentro do casamento. Sim. Infelizmente isso já
se trata de uma realidade, que na verdade, não é fato novo, pois diante da
análise do fenômeno, observa-se que sua prática acontece desde muito cedo, sendo
somente nominado e estudado há pouco tempo.
Mas
como se dá o assédio moral no casamento? Antes de mais nada deve-se tentar
esclarecer que no assédio moral, são identificados dois sujeito: a vítima e o
agressor. Como dito acima, o agressor pratica atos repetitivos e velados que
têm como finalidade minar a autoestima, a confiança e a segurança da vítima. No
ambiente de trabalho, tais atos visam somente o pedido de demissão do empregado,
forçando-o a desistir da relação de trabalho.
Geralmente
vítima e agressor têm perfis bem definidos: o agressor geralmente tem uma
imagem de autoconfiança e superioridade inabaláveis. A primeira vista nem
teriam reais motivos para praticar atos tão covardes, uma vez que as suas vítimas,
ao contrário do que se imagina, não dão motivos para represálias, eventuais
repreensões, ou punições. Muito pelo contrário: geralmente as mesmas, dentro do
ambiente de trabalho são os empregados mais dedicados, aplicados, capazes e
produtivos, que de alguma forma, representam uma espécie de ameaça ao superior
hierárquico, que busca anula-lo dentro da empresa, desestruturando-o e por fim,
eliminando-o da mesmas a fim de
salvaguardar sua posição dentro da empresa.
E
como esse fenômeno se dá dentro do casamento? De acordo com Marie-France Hirigoyen,
psiquiatra francesa, principal estudiosa e expoente do tema em todo o mundo,
autora de diversos livros sobre o assunto, as relações perversas se dão em
diversas esferas sociais. Na escola, no trabalho, no casamento, ou seja, em
qualquer relação interpessoal que podemos travar durante nossa vida, o assédio
moral poderá ser praticado.
Tal
fenômeno caracteriza-se por atos repetitivos e até imperceptíveis para as
demais pessoas que cercam os sujeitos envolvidos, que pode ser externado
através de ironias, deboches, piadas, ridicularização pública ou velada da
vítima, utilização de apelidos jocosos, e constrangedores, desvalorização das
atividades realizadas pela vítima pelo agressor, desconsideração de suas
opiniões, isolamento, humilhações, abandono emocional e material, exigências
exageradas, brigas constantes, perseguições, bem como uma gama de atitudes
perversas e covardes dirigidas á vítima, que a esta altura, já se encontra
totalmente fragilizada e refém de uma situação limitante, desconhecida e
assustadora.
Geralmente
os atos repetitivos de agressão são marcados por frases típicas, carregadas de
conteúdo crítico, tais como: “Você não tem
jeito mesmo!”; “Como você é burra(o)!”;
“Eu sabia que não podia contar com você
mesmo!”; “Você é um fracasso!”; “Você não vai conseguir mesmo!”; “Tenho vergonha do seu corpo!”; “Não adianta te explicar, você não vai
entender!”; “a sua comida é péssima!”,
“você não se cuida como antes!”, “não gosto que me vejam com você”, além
de apelidos dirigidos à vítima, de maneira repetitiva e torturante, que
devastam a autoestima do companheiro.
É
importante frisar que o isolamento e o abandono (tanto material quanto físico)
também caracterizam o assédio moral, uma vez que deixam a vítima em situação de
fragilidade extrema.
É
muito mais comum do que imaginamos, e os primeiros sinais não podem ser jamais
ignorados. Dentro do casamento, o agressor maltrata e persegue sua vítima,
humilhando-a, diminuindo-a, apelidando-a, ressaltando os seus defeitos físicos,
criticando-a há todo momento, ridicularizando-a, menosprezando-a e por fim,
livrando-se da mesma quando não mais lhe interessam os seus “préstimos”,
descartando-a como se objeto fosse. As sequelas emocionais são as mais
profundas e devastadoras nas vítimas do assédio moral, tanto na alma quanto no
coração. Imagine a dor de ser maltratado
e violado por alguém que foi o seu grande amor.
Por
isso, finalizo este texto fazendo as seguintes considerações:
1º
- Este texto não se tratada de “texto técnico”. Todos sabem que não sou nem
psicóloga, nem psiquiatra e que falo unicamente com base no que leio, mas
experiências de vida minha e de pessoas com quem converso todos os dias;
2º
- O assédio moral (ainda) não é crime no Brasil. A boa notícia é que o nosso
Código Penal (de 1940!) encontra-se em processo de revisão, na qual incluirá a
tipificação do assédio como crime;
3º
- Tem muita gente que conhecemos que sofre tudo aquilo que foi descrito neste
texto por muitos e muitos anos, mas que infelizmente não consegue entender o
que se passa dentro do seu casamento. Isso não pode ser jamais confundido com
passividade ou conformismo. A violência sofrida por estas pessoas causa danos
de ordem psicológica grave, que por vezes dificulta a compreensão dos atos do
agressor, que outrora era uma pessoa bacana, companheira e parceira;
4º
- A vítima desenvolve uma forte dependência psicológica em relação ao agressor,
uma vez encontra-se com a autoestima completamente comprometida e devastada. Em
determinados momentos não consegue mais distinguir o aquilo que acha que é amor
pelo agressor da dependência psicológica, por isso é difícil desvincular-se
desta situação sem ajuda psicológica.
Por
fim, deixo claro que o assédio moral é somente o primeiro passo para a agressão
física. Isso não é invenção. As estatísticas estão aí para quem quiser ver. O
mal deve ser cortado pela raiz assim que identificado. A família e aos amigos
da vítima devem ser imediatamente acionados, bem como a mesma, se possível for
deverá ser prontamente afastada do agressor. Se você conhece alguém que se
enquadra nesta situação e com as características de vítima acima descritas, dê
um toque, manifeste-se, ainda que de forma sutil. Ouça e depois fale e
aconselhe. Demonstre preocupação, acolha e mostre a essa pessoa que o
isolamento no qual ela vive, é apenas mais uma construção perversa do seu
agressor.